7 dicas para escrever bons diálogos
- Carol Santoian
- 14 de set. de 2021
- 5 min de leitura

Diálogo é uma coisa que pode dar uma BAITA dor de cabeça em alguns roteiristas. Porque, por mais que seja divertido escrever diálogos, como está tudo na nossa cabeça, às vezes é difícil saber se aquela linha de diálogo ali que a gente escreveu é natural, se faz sentido ou se estamos forçando a barra...
Primeiro, eu preciso dizer que essa insegurança maior com o diálogo é comum, até porque, se você for pensar, ela é a parte do texto que realmente aparece no produto final… Claro, levando em consideração que o ator pode adaptar e etc.
Segundo, os seus diálogos vão melhorando com o tempo, assim como toda a sua de escrita de roteiros. Então, escreva, escreva e escreva!
Mas calma que eu separei aqui sete dicas úteis e práticas pra te ajudar a melhorar seus diálogos.
1 - Leia em voz alta!
Sei que parece uma coisa simples e boba, mas na hora que você lê seu texto (e isso serve não só para diálogo, mas para qualquer texto), você materializa as palavras. E, ao fazer isso, você percebe às vezes que um diálogo está longo demais, que há muita repetição de palavra, você percebe se o ritmo está bom, etc...
Eu recomendo muito que você faça leituras de roteiro. Pode ser sozinho, pode ser com alguém. Pode apostar que faz toda a diferença.
Vou deixar aqui um vídeo do Tarantino o próprio roteiro de Kill Bil para você se inspirar:
2 - Subtexto
O subtexto é a alma de um bom diálogo, todos dizem.
Mas o que é isso?
Simples! A gente pode dizer que há o texto - o que está explícito, ali, nos diálogos. Ou seja, o que eles estão falando. Mas que, além do que eles falam, há todo um universo de intenções invisíveis. São pensamentos e sentimentos que não são ditos, que ficam implícitos. E aí está a alma do diálogo!
Por exemplo, vamos supor que você tem um casal, eles estão no carro e eles conversam amenidades do dia... Mas a conversa é quase que um protocolo, eles falam sobre o tempo e há um vazio entre os dois. Os olhos deles nunca se encontram, eles estão afastados. O que essa cena está nos contando não está no diálogo, percebe? Está no subtexto, que nos informa que provavelmente esse casal não está bem.
3- Não esqueça das ações!
Perceba que para escrever diálogos com subtexto você precisa de ações que complementem ou até neguem o que está sendo dito! O que o seu personagem faz enquanto ele fala, o modo como ele fala, são coisas importantes que revelam esse subtexto.
Sabe quando a gente vê aquele roteiro só com diálogo, diálogo, diálogo? A gente chama isso de “talking heads” ou “cabeças falantes” - que representam dois personagens só falando sem ação. Isso acontece? Sim. É proibido? Não!
Mas por que devemos evitar? Porque quando você só escreve diálogo, você corre o grande risco de usar isso para entregar todas as informações. Sem contar que, por mais até que o ator mude as ações, os olhares, você precisa passar pelo seu texto todas as intenções da cena (e você, que já sabe agora sobre o subtexto, já entende que não tem como passar essas intenções só com o diálogo, né?).
4 - Corte informações desnecessárias!
Mas aí você vai falar: ai, Carol, mas eu já sei disso...
Calma que é muito fácil escorregar nisso! E é exatamente por isso que uma leitura em voz alta é importante, pois muita coisa boba passa batida.
Observe alguns pontos: será que aquela conversa precisa começar do começo? Ex: ligação telefônica. Será que precisa começar do "Alô"? Será que não posso começar direto no que interessa?
Ou: será que preciso reiterar uma informação toda hora? Se você tiver fazendo algo pra TV, pode ser que sim, mas em geral, não é legal você ficar repetindo uma informação.
Às vezes até o que parece ser muito necessário, não é necessário dizer em palavras.
Se toda a cena for construída, por exemplo, para um casal mostrar que se ama, será que você precisa colocar na boca dos dois que eles se amam? Muitas vezes a gente acha que só é repetição algo que você disse, mas às vezes você está falando uma coisa que já está dita… Só que sem palavras.
5 - “Ninguém fala o que pensa. Ninguém pensa antes de falar”
Essa frase é da Carolina Kotscho e está no livro “Palavra de roteirista”. Essa frase me marcou muito porque ela sintetiza essa particularidade da fala.
Repare nas pessoas ao redor. Elas falam tudo explicadinho? Não.
Na fala existem lacunas, ruídos. Uma pessoa pode falar algo e suas ações serem contraditórias. Se seu personagem fala uma coisa e faz exatamente o oposto, por exemplo, essa é uma boa maneira de indicar que ele é um mentiroso ou um hipócrita.
Não tente ver o diálogo só como aquele momento de inserir informações. Até para fazer diálogos expositivos bem feitos, você não pode entregar tudo ali, como se fosse uma palestra. A não ser que seu personagem seja um palestrinha e seja o jeito dele de falar! As informações são inseridas aos poucos, com ruídos, ações, com dúvidas…
Para entender mais sobre exposição no diálogo, te convido a assistir este vídeo:
6 - Deixe seu personagem ser quem ele é!
Sabe essa coisa do “aceite as pessoas como elas são”? Então, isso cabe muito para personagens.
Se você observar, cada pessoa tem sua própria voz, o seu jeito de falar algo.
Cada pessoa tem seu próprio universo de palavras - alguns falam mais difícil, outros falam mais gírias, uns falam gírias com palavras difíceis. É muito importante você traçar um universo específico de palavras pro seu personagem. E deixar ele ser quem ele é.
Pode ser que seu personagem seja o tipo que fala tudo explicadinho e contradiga várias coisas que eu disse aqui. Mas isso tem que ser consciente, tem que ser o jeito dele de falar. Se não existe contraste entre as vozes dos personagens, se eles falam igual, você tem um problema.
Outra coisa que pode ficar bem evidente ao ler seu roteiro é se todo mundo tem a mesma voz. Se você fecha o olho e não consegue identificar quem está falando, tá na hora de reescrever esses diálogos!
7 - Instigue com informações incompletas...
Sabe quando você está em um lugar, com pessoas que você não tem tanta intimidade e elas começam a fazer piadas internas e você sente que pegou tudo pela metade?
Isso pode ser bem chato na vida real, mas no seu roteiro isso pode ter um efeito oposto: despertar a curiosidade da audiência.
Ter isso em mente também pode te ajudar a não criar cenas muito explicativas que não fazem muito sentido.
Imagina, por exemplo, uma cena com dois caras que são amigos de infância. Eles não vão explicar um para o outro sobre a vida deles porque eles são muito amigos e isso seria esquisito. Então, no diálogo você também tem que se preocupar com o nível de intimidade dos personagens e inserir as informações com isso em mente.
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